Um dos maiores problemas causado pelo câncer é a metástase, uma mania chata dessas células doentes de saírem do seu tecido de origem e irem se instalar em outros, espalhando tumores por todo o corpo do paciente. O surgimento de novos tumores em diferentes partes do corpo dificulta muito o tratamento e aumenta a chance do comprometimento de algum órgão vital. A metástase na fase final do desenvolvimento do câncer é uma das causas de morte dos pacientes. Embora metástase seja extremamente perigosa para o paciente, ainda não é bem entendido porque algumas células do tumor “resolvem” se soltar, viajar pela corrente sanguínea e se mudar para outro lugar. Diferentes grupos de pesquisa estudam o fenômeno e buscam formas de impedir que ele aconteça.
Sabe-se hoje que pelo menos duas proteínas estão envolvidas no processo. A primeira é um receptor de membrana, chamado Axl. Essa proteína transmite a célula sinais vindos de fora e estimula a célula a responder a eles. A segunda é uma proteína que se liga a esse receptor e inicia sua atividade. Ela é conhecida como Gas6. Quando Gas6 que está circulando no sangue se liga à Axl, a célula do tumor é estimulada a botar o pé na estrada e ir para outro lugar. Como podemos impedir isso? Em teoria, existem duas formas óbvias. Primeiro podemos desenvolver algum composto capaz de se ligar ao receptor Axl e impedir que Gas6 se ligue ou desligar o receptor permanentemente. Isso não é fácil de conseguir, diferentes grupos tentaram e não tiveram resultados animadores. Ou podemos tentar reduzir a quantidade de Gas6, para que as células não sejam estimuladas. Foi o que pesquisadores americanos fizeram no ano passado.
A ideia foi simples e elegante (embora trabalhosa!): os cientistas produziram em laboratório o pedaço do receptor Axl que liga ao Gas6 em grande quantidade. A proposta era injetar isso no sangue e a proteína produzida se ligaria ao Gas6 e não sobraria Gas6 livre no sangue para se ligar às células do tumor. Que tal?
Primeiro, os pesquisadores produziram um caminhão de diferentes proteínas, usando Axl como base e fazendo pequenas modificações pontuais. Assim, eles conseguiram uma proteína com capacidade de ligação dez vezes maior que a própria Axl natural. Com isso, os cientistas aumentaram a chance de Gas6 se ligar a proteína artificial e não nas células.
Depois eles testaram a nova proteína em células em cultura e viram que ela era capaz de impedir que Gas6 ativasse o receptor Axl. Faltava mostrar que funciona no mundo real.
Os cientistas então injetaram a proteína artificial em camundongos e viram que os níveis de Gas6 livre no sangue foram reduzidos em 90 %. Quando os animais com câncer foram tratados com a proteína artificial, a quantidade de metástases também foi reduzida em 90 %.
Esses resultados mostram que essa alternativa é extremamente interessante como uma nova forma de se bloquear a metástase de tumores. Porém como ainda não estão programados testes em humanos, teremos que esperar para ver novos resultados.
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