A
hipertensão arterial (conhecida como pressão alta) é uma das doenças que mais
afetam pessoas por todo o mundo. É caracterizada por um aumento nos níveis de pressão
arterial, a força que a sua circulação sanguínea exerce nas suas artérias, a níveis
que estão relacionados a um maior risco de doenças do coração e rins. Até aí,
nenhuma novidade. Mas você já se perguntou, por que a proporção de pessoas com
hipertensão aumenta com a idade? Já se sabia que quanto mais velho, maior o
risco do paciente desenvolver um quadro de pressão alta. Mas o porquê disto
ocorrer ainda não havia sido descrito.
Um
grupo japonês, liderado por Motohiro Nishida, acrescentou uma possível resposta
a essa pergunta. Eles abordaram o problema com conhecimentos já estabelecidos.
Sabe-se que um hormônio produzido por nós, a angiotensina II, tem papel
importante para regulação de diversas funções no nosso corpo. Por exemplo, se
estamos desidratados, ela é liberada e promove o fenômeno de retenção de sais nos
rins (que responde pelo nome bonito de antinatriuese), que em ultima análise
diminui a quantidade de água perdida na forma de urina. Apesar de seus efeitos
benéficos, desde muitos anos atrás se sabe da participação de angiotensina II
no desenvolvimento da hipertensão. A Losartana, um dos remédios contra pressão alta
mais utilizados e conhecidos no mundo, age bloqueando seus efeitos desencadeados
pela ligação da angiotensina II com o receptor nas células.
Neste
trabalho, entretanto, eles verificaram uma associação do receptor de
Angiotensina II (chamado AT1R), com um receptor de nucleotídeos (composto com
diversas funções no organismo, como compor o DNA e servir como doador de
energia para várias reações químicas), chamado P2Y6. O receptor P2Y6 é ativado
durante situações de estresse. Eles verificaram que ratos jovens possuem pouca
associação entre esses receptores nos vasos sanguíneos, enquanto em ratos mais
velhos, esses receptores interagem fisicamente com maior frequência. O grupo
demonstrou que essa interação aumenta o efeito hipertensivo de angiotensina II desencadeado
pelo seu receptor. Mais ainda, foi visto que uma droga experimental capaz de
desfazer a associação entre P2Y6 e AT1R possui efeitos anti-hipertensivos e
efeitos protetores nos vasos sanguíneos.
Os
pesquisadores ainda discutem a relevância do trabalho. Apesar de diversos
medicamentos disponíveis, o número de pessoas diagnosticadas com hipertensão
tem aumentado de maneira consistente. Isso aumenta a necessidade de novas
abordagens terapêuticas para a manutenção da pressão em valores normais,
especialmente em pacientes mais idosos. Apesar da droga ainda ser experimental,
os resultados promissores demonstram um possível novo tratamento com função contra
a pressão alta e de proteção dos vasos sanguíneos. Além disso, os pesquisadores
acreditam que fatores ambientais levem a maior associação entre AT1R e P2Y6,
como inflamação, estresse mecânico e o próprio envelhecimento. Ficar de boas ainda
não foi provado como um tratamento para a hipertensão, mas ao que tudo indica,
pode ajudar a diminuir aquela pressão alta na terceira-idade.
Referência:
Nishimura A. et al. Purinergic P2Y6 receptors heterodimerize with angiotensin AT1 receptors to promote angiotensin II-induced hypertension. Science Signaling, 9 (411), 2016.
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