Pular para o conteúdo principal

Rapte-me, Camaleoa!


Recebi recentemente pelo Whatsapp um vídeo do Instagram mostrando um camaleão escalando uma série de lápis de cor diferentes. Cada vez que ele encostava a pata em um novo lápis, a cor dele mudava rapidamente, de acordo com a cor do lápis. Muito legal! Pena que não é verdade.

O vídeo era originalmente de um perfil de um camaleão de estimação e o responsável alterou o vídeo digitalmente, incluindo essas mudanças de cores rápidas no bicho. Ele deixou um aviso no vídeo original, explicando que era computação gráfica e que tinha feito só para ser divertido. Mas isso não impediu outras pessoas de retirarem o aviso e divulgarem pela Internet. Fazer o quê?

Mas aqui embaixo tem um vídeo mostrando como de fato um camaleão muda de cor.



Reparem duas coisas: 1) o vídeo está acelerado dez vezes, ou seja, a mudança de cor é lenta; e 2) ficando mais amarelo avermelhando, a última coisa que ele está fazendo é ficar mais camuflado.

Eu sempre me perguntei como o camaleão sabia que cor ele tinha que escolher para ficar bem escondido. Se o primeiro vídeo fosse verdade, só encostar na cor seria suficiente para o bicho mudar de cor. Ele seria quase um X-Men (ou X-Chameleon)! Mas o camaleão não precisa saber para que cor mudar para se camuflar. Isso porque é muda de cor para aparecer!

Os camaleões em situações normais são verdes, com riscos mais claros puxando para o amarelo ou cinza. Ou seja, eles são perfeitamente camuflados para o ambiente onde vivem: entre as folhas de galhos de árvores. Mas então para que mudar de cor?

Os camaleões podem mudar de cor com a intenção de se comunicar com outros bichos da mesma espécie, tentando atrair um parceiro (oi, sumido!) ou afastar um rival numa disputa de território. Ficar muito colorido também pode ajudar a escapar de predadores, já que esses podem não estar acostumados com esses padrões e acabam se confundindo. A mudança de cor também ajuda os camaleões a regular a sua temperatura. Como eles não são animais de sangue quente como nós, eles dependem do calor ambiente. Assim, eles podem ficar mais escuros para se esquentar mais no sol (roupa escura esquenta), ou mais claros se quiserem tentar esfriar. Mas como eles conseguem mudar de cor?

Os camaleões tem dois tipos especiais de células na pele: os cromatóforos e os iridóforos. Os cromatóforos são células que possuem pigmentos coloridos e o bicho consegue controlar a posição dessas células e a concentração dos pigmentos. Assim, se os cromatóforos estão mais na superfície da pele e mais concentrados, o camaleão fica mais escuro. Por outro lado, se as células vão mais para dentro na pele, o bicho fica mais claro. Já os iridóforos são células que acumulam tanto sal que eles formam cristais. Sabe quando a luz do sol passa através de algum vidro de janela e forma um arco-íris na parede? Os cristais nos iridóforos funcionam igualzinho. Assim a luz do sol bate no camaleão e é refletida e refratada pelos cristais de sal, permitindo que o bicho tenha um arco-íris de cores para escolher. Como o camaleão também consegue mudar a posição dos iridóforos, ele consegue assumir diferentes padrões de coloração. A combinação dos efeitos dos cromatóforos e dos iridóforos dá essa coloração incrível aos camaleões.

Não tão incrível como mudar de cor imediatamente enquanto escala uma sequeência de lápis de cor, mas pelo menos de verdade!

Referências



Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, suco de melão São Caetano não é a cura do câncer

Recebi pelo Facebook um link para uma postagem do blogue Cura pela Natureza . Lá é descrito o poder de uma planta medicinal capaz de curar o câncer, controlar o diabetes e, de quebra, fortalecer a imunidade do corpo. Sinistro, né? A planta em questão é chamada de melão São Caetano ou melão amargo. Conhecida cientificamente como Momordica charantia , essa planta faz parte da família Cucurbitaceae, junto com outras plantas famosas, como a abóbora, o pepino e a melancia. Ela cresce bem nas áreas tropicais e subtropicais da África, Ásia e Austrália, e foi trazida ao Brasil pelos escravos. O texto cita o Dr. Frank Shallenberger, dos Estados Unidos, que seria o descobridor dos efeitos medicinais da planta. Fui então atrás das pesquisas publicadas pelo Dr. Shallenberger para saber mais sobre os poderes do melão São Caetano. E descobri que ele nunca publicou nenhum trabalho científico sobre a planta (na verdade, ele nunca publicou qualquer coisa!). Como que a

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?

Ontem, eu recebi pelo Facebook um vídeo de uma entrevista com o Dr. José Roberto Kater onde ele comenta sobre os benefícios do ovo na alimentação. Porém, algumas coisas me soaram um pouco, digamos, curiosas (na verdade, em pouco mais de três minutos de vídeo poucas coisas pareceram normais (o vídeo completo está disponível no fim do texto)). O Dr. Kater é, segundo a Internet, médico, obstetra, nutrólogo, antroposófico (a medicina antroposófica é um ramo alternativo com base em noções ocultas e espirituais), homeopata, acupunturista e com mais algumas outras especialidades. Porém, não é cientista, já que não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes (do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, CNPq) ou assina qualquer artigo científico indexado em banco de dados internacional. Para mim, o cara pode dizer que é o Papa, eu não vou acreditar nele de primeira. As informações científicas estão disponíveis e eu fui pesquisar para entender se o Dr. Kater é um visionário ou ch