Pular para o conteúdo principal

Mais um pouco sobre cosméticos e animais


Cruzei de novo pela Internet com um abaixo-assinado virtual sobre o uso de animais em teste de cosméticos. Esse abaixo-assinado pressiona a Avon a acabar com os testes em animais. Em Abril do ano passado, eu já escrevi um longo texto sobre a importância do uso de animais de laboratório no desenvolvimento de novas formulações de cosméticos. Se você não leu, recomendo que dê uma lida antes de continuar aqui. Não vou reescrever todos os argumentos de novo aqui, mas vou tentar mostrar que esse caso explica claramente que a indústria de cosméticos está mais preocupada com o seu dinheiro do que com os bichos.

A Avon foi, segundo ela mesma, a primeira empresa a estabelecer uma política para abolir os testes com animais.

Ué? Então para que o abaixo-assinado? Porque alguns países exigem que os cosméticos sejam testados em animais, independente se foram testados por métodos alternativos aprovados. Segundo a própria Avon, apenas 0,3 % dos seus produtos vendido pelo mundo são testados em animais devido às leis dos países onde são comercializados. Se considerarmos que esses produtos são responsáveis por 0,3 % dos faturamentos da Avon (uma estimativa que pode ser longe da realidade), eles rendem a empresa modestos 27 milhões de dólares por ano (se comparado aos nove bilhões de dólares de faturamento total).

Então, por que a Avon simplesmente não abre mão desses países em prol do seu ideal de não usar animais? Porque um desses países é a China, um mercado consumidor de um bilhão e 300 milhões de pessoas. Imagine a quantidade de dinheiro que espera a Avon nesse um sexto de população mundial. Se a China obrigasse o CEO da Avon a testar seus produtos na sua mãe de cabeça para baixo, era capaz de ele aceitar.

Esse abaixo-assinado deveria ser direcionado ao Presidente chinês, cobrando que seu país não obrigue que os produtos sejam testados em animais e aceite os métodos alternativos já aprovados pela comunidade científica, e não à Avon. Aliás, o abaixo-assinado é direcionado a David Legher, presidente da Avon no Brasil. Eu entendo pouco de administração de empresas, mas acho que o presidente no Brasil não é a pessoa que decide sobre os negócios de uma empresa americana na China.

O abaixo-assinado foi iniciado por Leonardo Bezerra, fundador da ONG (eu acho) Infoanimal. Não consegui descobrir nada sobre o Sr. Bezerra. Como é recorrente nas ONG de proteção animal, suas páginas não informam sobre seus líderes ou integrantes de um conselho de administração, e suas formações. Ou sobre quem os financia.

A Infoanimal se descreve com um grupo de ciberativismo e seus objetivos são, em grande parte, nobres, incluindo fim do uso de peles em vestuário, promoção da adoção de animais e abolição dos rodeios. O tema da experimentação animal na Ciência não consta na lista. Mas, cá entre nós, fazer campanha contra a feijoada não deve conseguir muitos adeptos. 
P.S.: Tem uma coisa que eu insisto em repetir: se os métodos alternativos são “mais baratos, mais seguros e mais eficientes”, por que a indústria de cosméticos insiste em usar animais? Por puro sadismo? Não! Usam porque eles ainda são necessários em algumas etapas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Não, suco de melão São Caetano não é a cura do câncer

Recebi pelo Facebook um link para uma postagem do blogue Cura pela Natureza . Lá é descrito o poder de uma planta medicinal capaz de curar o câncer, controlar o diabetes e, de quebra, fortalecer a imunidade do corpo. Sinistro, né? A planta em questão é chamada de melão São Caetano ou melão amargo. Conhecida cientificamente como Momordica charantia , essa planta faz parte da família Cucurbitaceae, junto com outras plantas famosas, como a abóbora, o pepino e a melancia. Ela cresce bem nas áreas tropicais e subtropicais da África, Ásia e Austrália, e foi trazida ao Brasil pelos escravos. O texto cita o Dr. Frank Shallenberger, dos Estados Unidos, que seria o descobridor dos efeitos medicinais da planta. Fui então atrás das pesquisas publicadas pelo Dr. Shallenberger para saber mais sobre os poderes do melão São Caetano. E descobri que ele nunca publicou nenhum trabalho científico sobre a planta (na verdade, ele nunca publicou qualquer coisa!). Como que a

Rapte-me, Camaleoa!

Recebi recentemente pelo Whatsapp um vídeo do Instagram mostrando um camaleão escalando uma série de lápis de cor diferentes. Cada vez que ele encostava a pata em um novo lápis, a cor dele mudava rapidamente, de acordo com a cor do lápis. Muito legal! Pena que não é verdade. O vídeo era originalmente de um perfil de um camaleão de estimação e o responsável alterou o vídeo digitalmente, incluindo essas mudanças de cores rápidas no bicho. Ele deixou um aviso no vídeo original, explicando que era computação gráfica e que tinha feito só para ser divertido. Mas isso não impediu outras pessoas de retirarem o aviso e divulgarem pela Internet. Fazer o quê? Mas aqui embaixo tem um vídeo mostrando como de fato um camaleão muda de cor. Reparem duas coisas: 1) o vídeo está acelerado dez vezes, ou seja, a mudança de cor é lenta; e 2) ficando mais amarelo avermelhando, a última coisa que ele está fazendo é ficar mais camuflado. Eu sempre me perguntei como o camaleão sabia que cor ele tinha que esco