“O Menino da Internet: A História de Aaron Swartz” é um excelente documentário de 2014, escrito e dirigido por Brian Knappenberger. O filme conta a história do programador e ativista americano Aaron Swartz.
Seu pai era dono de uma empresa de software e, desde muito jovem, Swartz se interessou por computação e esteve envolvido com a programação e a Internet. Exemplos? Em 2000, Swartz tinha 13 anos e foi o mais jovem ganhador do prêmio ArsDigita, dedicado a jovens que criaram páginas não-comerciais úteis, educacionais e colaborativas. Swartz construiu a “The Info Network”, uma enciclopédia online que pode ser considerada uma pré-Wikipédia. Com 14 anos, ele ajudou no desenvolvimento da tecnologia de RSS, que permite hoje que usuários se inscrevam em blogs (como esse) e outros sites com constante atualização, para receber novos conteúdos diretamente, sem precisar visitá-los um a um. E com 15 anos, Swartz participou ativamente da criação da Creative Commons, ONG dedicada à flexibilização dos direitos autorais, visando permitir acesso do público a obras criativas de modo legal, reduzindo o impacto da pirataria.
Mais? Já estudando em Stanford, Swartz participou do desenvolvimento da rede social Reddit. E construiu a OpenLibrary, com o objetivo de ser uma biblioteca virtual e colaborativa onde todos os livros estariam disponíveis a qualquer pessoa.
Pelo seu histórico, podemos perceber que Swartz sempre esteve preocupado que a Internet fosse um ambiente de conhecimento livre, onde todo mundo tivesse acesso a todo tipo de informação e dados. Por isso, Swartz foi um ativista que lutou pela liberdade na rede, sendo, por exemplo, líder na luta contra o projeto de lei SOPA do congresso americano.
Mas o que a história de Swartz tem a ver com Ciência, além de passar pela computação e tecnologia? O seu final.
Quando um grupo de cientistas produz resultados significativos, eles organizam esses dados em uma comunicação à comunidade científica, um artigo científico a ser publicado. Se o artigo for aprovado para publicação, com base na sua qualidade e relevância, ele tem dois caminhos básicos: (1) ser publicado de forma aberta, onde os pesquisadores arcam com os custos da publicação e com o lucro da editora. Isso normalmente sai por uma bagatela entre mil e dois mil dólares; ou (2) ser publicado da forma tradicional, onde os pesquisadores não pagam pela publicação, mas os leitores interessados pagam para ler. O custo médio de um artigo gira em torno de 30 dólares. Ou seja, dessa última forma, o conhecimento científico gerado fica restrito há uma pequena parcela que pode pagar. As universidades de países desenvolvidos e uma parte das de países em desenvolvimento tem acesso, mesmo que só a uma parte dos artigos científicos, pago pelas próprias universidades ou pelo governo do país. As universidade federais brasileiras têm acesso aos artigos de algumas editoras científicas através do Periódicos CAPES, programa do Governo Federal, por exemplo. O acesso pelo público geral fica quase totalmente proibitivo. Swartz era contra isso.
Ele então criou o programa simples, que baixava e salvava em um disco rígido um a um todos os artigos disponíveis no sistema JSTOR, um banco de dados americano que armazena os artigos científicos. Swartz carregou o programa e o disco rígido na rede de servidores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, que tinha acesso ao JSTOR, e começou a copiar o banco de dados. É possível que Swartz quisesse disponibilizar os artigos livremente na rede quando a duplicação do banco de dados terminasse, mas ele não teve oportunidade. A JSTOR identificou o acesso anormal aos dados e Swartz foi preso, acusado de roubo de dados, com pena possível de 35 anos e um milhão de dólares em multas. Ele se enforcou antes de ser julgado, em 2013. Hoje faz parte do Hall da Fama da Internet.
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