Imaginem a seguinte cena: você está com uma forte dor de cabeça e alguém, de sua inteira confiança, lhe oferece um remédio dizendo que vai aliviar sua dor. Você toma o comprimido e, em questão de alguns minutos, a dor se foi. Bem... a dor se foi, mas a pergunta fica: quem disse que aquele comprimido realmente tinha um medicamento dentro? A dor passou porque o medicamento funciona ou porque você, confiando na pessoa que te deu o comprimido, criou expectativas psicológicas de que ia melhorar? Essa é a essência do “efeito placebo”.
Todo estudo de novos medicamentos precisa ter um grupo para controlar o efeito placebo, ou seja, pacientes ou voluntários que receberão um comprimido que não contém o medicamento testado - mas que tem aspecto igualzinho a ele - de forma a controlar os efeitos psicológicos (não específicos) da administração do medicamento.
Pois bem, na inclusão desse grupo placebo, muitas coisas que julgávamos eficazes no tratamento de condições clínicas se mostraram, na verdade, apenas “placebos”. Um exemplo bobo disso é quando se dá água com açúcar para acalmar alguém. Água com açúcar não acalma – pelo menos não farmacologicamente. O que a água com açúcar faz (na verdade, alguém dar água com açúcar para uma pessoa sob grande tensão) é trazer conforto e apoio, o que ajuda a acalmar – um efeito mais psicológico do que biológico de fato.
Mas como que o efeito placebo funciona? Essa é a grande pergunta do artigo de Ben-Shaanan e colaboradores, publicado essa semana na prestigiada revista científica Nature Medicine1. Sabendo que o efeito placebo envolve a ativação de áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa, esse grupo de Israel desenvolveu uma técnica bastante sofisticada para ativar o sistema de recompensa em camundongos, numa tentativa de recapitular o efeito placebo nesses animais. Surpreendentemente, a ativação do sistema de recompensa levou a um aumento de vários parâmetros de eficiência do sistema de defesa desses animais: eles, por exemplo, passaram a eliminar bactérias de forma mais eficiente e produzir mais anticorpos.
Ou seja, esse trabalho mostra que a ativação do sistema de recompensa eleva nossas defesas. Embora todo o foco dos autores tenha sido dado ao “efeito placebo”, eu, particular e humildemente, acho que supor que ativar artificialmente o sistema de recompensa é o mesmo que induzir o efeito placebo em animais é extrapolar um pouco as limitações do modelo experimental e exagerar na interpretação dos resultados. No entanto, a meu ver, abrem-se questões mais abrangentes (e, para mim, mais interessantes), tais como: qual o efeito de coisas que sabidamente ativam o sistema de recompensa, sobre nossa imunidade? Será que esse mecanismo não está por trás das nossas concepções intuitivas de que pessoas mais felizes ou pessoas que rezam com fé tem suas defesas melhoradas e, por isso, tendem a adoecer menos2,3? Por outro lado, será que a inibição do sistema de recompensa, por depressão, estresse ou dependência química, diminuiria nossa imunidade4,5? Como todo bom trabalho científico, esse responde uma pergunta e levanta outras tantas...
Todo estudo de novos medicamentos precisa ter um grupo para controlar o efeito placebo, ou seja, pacientes ou voluntários que receberão um comprimido que não contém o medicamento testado - mas que tem aspecto igualzinho a ele - de forma a controlar os efeitos psicológicos (não específicos) da administração do medicamento.
Pois bem, na inclusão desse grupo placebo, muitas coisas que julgávamos eficazes no tratamento de condições clínicas se mostraram, na verdade, apenas “placebos”. Um exemplo bobo disso é quando se dá água com açúcar para acalmar alguém. Água com açúcar não acalma – pelo menos não farmacologicamente. O que a água com açúcar faz (na verdade, alguém dar água com açúcar para uma pessoa sob grande tensão) é trazer conforto e apoio, o que ajuda a acalmar – um efeito mais psicológico do que biológico de fato.
Mas como que o efeito placebo funciona? Essa é a grande pergunta do artigo de Ben-Shaanan e colaboradores, publicado essa semana na prestigiada revista científica Nature Medicine1. Sabendo que o efeito placebo envolve a ativação de áreas do cérebro ligadas ao sistema de recompensa, esse grupo de Israel desenvolveu uma técnica bastante sofisticada para ativar o sistema de recompensa em camundongos, numa tentativa de recapitular o efeito placebo nesses animais. Surpreendentemente, a ativação do sistema de recompensa levou a um aumento de vários parâmetros de eficiência do sistema de defesa desses animais: eles, por exemplo, passaram a eliminar bactérias de forma mais eficiente e produzir mais anticorpos.
Ou seja, esse trabalho mostra que a ativação do sistema de recompensa eleva nossas defesas. Embora todo o foco dos autores tenha sido dado ao “efeito placebo”, eu, particular e humildemente, acho que supor que ativar artificialmente o sistema de recompensa é o mesmo que induzir o efeito placebo em animais é extrapolar um pouco as limitações do modelo experimental e exagerar na interpretação dos resultados. No entanto, a meu ver, abrem-se questões mais abrangentes (e, para mim, mais interessantes), tais como: qual o efeito de coisas que sabidamente ativam o sistema de recompensa, sobre nossa imunidade? Será que esse mecanismo não está por trás das nossas concepções intuitivas de que pessoas mais felizes ou pessoas que rezam com fé tem suas defesas melhoradas e, por isso, tendem a adoecer menos2,3? Por outro lado, será que a inibição do sistema de recompensa, por depressão, estresse ou dependência química, diminuiria nossa imunidade4,5? Como todo bom trabalho científico, esse responde uma pergunta e levanta outras tantas...
DICIONÁRIO
Sistema de recompensa: áreas do cérebro que estão coordenadas e que são ativadas por estímulos ligados ao prazer, à motivação e à boa expectativa. O nome “recompensa” vem das primeiras descrições desse comportamento em animais que eram treinados a esperar uma recompensa agradável (uma guloseima, por exemplo) associada a um estímulo qualquer, como o tocar de um sino ou algum outro sinal6.
REFERÊNCIAS
1Ben-Shaanan et al., 2016. Activation of the reward system boosts innate and adaptive immunity. Nat Med. advance online publication (publicado online em 04 de julho de 2016).
2Barak, 2006. The immune system and happiness. Autoimmun Rev. 5: 523.
3Chanda & Levitin, 2013. The neurochemistry of music. Trends Cogn Sci. 17: 179.
4Dhabhar, 2013. Psychological stress and immunoprotection versus immunopathology in the skin. Clin Dermatol. 31: 18.
5Blume et al., 2011. Immune suppression and immune activation in depression. Brain Behav Immun. 25: 221.
6Everitt et al., 1999. Associative processes in addiction and reward: the role of amygdala-ventral striatal subsystems. Ann N Y Acad Sci. 877: 412.
2Barak, 2006. The immune system and happiness. Autoimmun Rev. 5: 523.
3Chanda & Levitin, 2013. The neurochemistry of music. Trends Cogn Sci. 17: 179.
4Dhabhar, 2013. Psychological stress and immunoprotection versus immunopathology in the skin. Clin Dermatol. 31: 18.
5Blume et al., 2011. Immune suppression and immune activation in depression. Brain Behav Immun. 25: 221.
6Everitt et al., 1999. Associative processes in addiction and reward: the role of amygdala-ventral striatal subsystems. Ann N Y Acad Sci. 877: 412.
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