O envelhecimento da população mundial vem crescendo atualmente, devido a melhorias na qualidade de vida, nas tecnologias empregadas para a saúde e devido ao grande número de tratamentos para as mais diversas enfermidades. Apesar destes avanços, diversas disfunções associadas ao envelhecimento ainda são muito frequentes, como por exemplo, a perda de função cognitiva (habilidades mentais como aprendizado, memória, tomada de decisões, linguagem, julgamento, entre diversas outras). Desta forma, vive-se mais, mas não tão bem assim.
O hipocampo é a região do cérebro responsável por controlar a memória espacial (aquela que usamos para nos orientar) e de curta duração. Doenças típicas do envelhecimento, como o Alzheimer, são conhecidas por afetarem o hipocampo, diminuindo o número de neurônios nesta região e também a plasticidade neuronal (capacidade dos neurônios modificarem sua estrutura de acordo com estímulos). Com isso, os sintomas clássicos de Alzheimer aparecem, principalmente a perda de memória recente.
Estudos anteriores demonstraram que a transfusão de sangue de animais novos para animais velhos tem a capacidade de regenerar tecidos e órgãos, como músculo, fígado e cérebro (a gente já escreveu sobre isso aqui). Se essa melhora estrutural representa uma melhora funcional, não se sabe. Cientistas norte-americanos demonstraram que de fato, sangue ‘’novo’’ melhora a função cognitiva, como o aprendizado e a memória, funções estas perdidas com o envelhecimento.
Utilizando ratos como modelo experimental, eles demonstraram que o tratamento de ratos velhos com sangue de um animal jovem, mas não o de um animal de idade semelhante, é capaz de estimular uma proteína importante para a função do hipocampo, chamada de CREB pelos cientistas. O aumento de CREB no hipocampo de ratos que receberam sangue jovem foi capaz de aumentar o número de neurônios, a plasticidade dos neurônios, o aprendizado e a memória, melhorando, portanto, a capacidade cognitiva de ratos ‘’idosos’’!
As moléculas presentes no sangue dos animais jovens que são de fato responsáveis pelo efeito rejuvenescedor na função cognitiva (seria o sangue jovem o elixir da juventude?) ainda não foram identificadas. Os autores discutem que descobrindo quais moléculas são responsáveis por esse efeito, seríamos capazes de utilizá-las para o tratamento de distúrbios neurológicos associados com o envelhecimento, como por exemplo, o Alzheimer. Estaríamos caminhando para um ‘’vampirismo’’ da atualidade, onde o sangue jovem poderia ser a fórmula para a juventude, e possivelmente uma maior longevidade? Fato é que o sangue ainda pode ter muito a nos surpreender.
Referência
Villeda S.A. et al. Young blood reverses age-related impairments in cognitive function and synaptic plasticity in mice. Nature Medicine, 20, 659-663, 2014.
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