O câncer é uma das principais causas de morte no mundo, onde apenas em 2018 foi responsável pela morte de 9,6 milhões de pessoas no mundo, sendo o tratamento e a prevenção cruciais para diminuição de 30 a 50% da mortalidade desta doença (WHO, 2020). Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2020, 19,3 milhões foram diagnosticadas com câncer, sendo que este cenário ainda pode ser agravado pela dificuldade de acesso a centros de saúde e paralização de tratamento oncológicos e não realização de exames preventivos e de diagnostico precoce para câncer durante a pandemia da COVID-19. E, exatamente pela sua gravidade, não é surpresa que pesquisas oncológicas sejam temas recorrentes dentre os ganhadores do Nobel.
Um dos dez tipos de câncer mais comuns no mundo é a leucemia, onde vemos cerca de 257 mil novos casos por ano. Em 2022 pesquisadores reportaram o marco de 10 anos de sobrevivência de dois pacientes com leucemia que foram tratados com uma terapia inovadora, a terapia CAR-T. Essa terapia inovadora busca utilizar o próprio sistema imune do paciente como ferramenta de reconhecimento e ataque das células tumorais. O potencial dessa terapia é tão revolucionário que, nos Estados Unidos em 2017, o FDA (Food and Drug Administration) aprovou o uso dessa terapia como tratamento para patologias malignas no sangue, como é o caso da leucemia e linfomas.
A terapia CAR-T consiste basicamente na utilização de receptores de antígenos quiméricos (CARs) que apresentam domínios de reconhecimento de antígeno e de cascata de sinalização de células T. As células T são um tipo de células branca do sangue e fazem parte do nosso sistema imune. São estas células responsáveis pela memória de imunização, isso porque são capazes de reconhecer células e antígenos, e agem também auxiliando na produção de anticorpos. Uma importante função é que estas células também podem reconhecer células infectadas e orquestrar sua morte. A ideia da terapia do CAR-T é exatamente utilizar as CARs para programar as células T do paciente para serem capazes de identificar as células tumorais. Uma vez modificadas, as células CAR-T modificadas são injetadas novamente no paciente e agora que passam a reconhecer células malignas iniciando o processo de morte destas células alvo. Como as células T, assim que encontram seu alvo se dividem em novas células, seriamos capazes de ao usar o CAR-T para produzir um exército de células modificadas para combater as células cancerígenas.
Esta terapia foi criada por um grupo de pesquisadores liderado por Carl June que faz parte da Escola de Medicina de Perelman na Universidade da Pennsylvania Estados Unidos, e foi também este grupo responsável por tratar pacientes com esta terapia em 2010. O primeiro paciente que participou do estudo clínico de June apresentava um quadro clínico de leucemia linfoide crônica. As células T do paciente foram coletadas e modificadas; duas semanas depois, as células tinham se multiplicado 700 vezes e foram então introduzidas de volta para corrente sanguínea do paciente. Após um mês da infusão, o paciente passou por uma biopsia da medula óssea e para surpresa dos pesquisadores nenhum câncer foi detectado. Este paciente permaneceu vivo e sem câncer por 11 anos, vindo a falecer 2021 por complicações da COVID-19.
A terapia de CAR-T é uma terapia inovadora que utiliza o próprio sistema imune do paciente, ou seja, causa mínimo de reação adversa por se tratar de células do próprias. Além de ser altamente personalizada e adaptada para cada tipo de câncer e situação. E exatamente por seu potencial e eficácia incrível no tratamento do câncer, o Dr. Carl June pode ser o próximo ganhador do Nobel de Medicina ou Fisiologia em 2023 pelo seu trabalho inovador e desenvolvimento de uma terapia que pode salvar milhões de pessoas, sendo seu uso para o tratamento de cânceres do sangue apenas o início.
Esse texto foi escrito por Rayane Efraim Correa, aluno de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biociências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como parte da avaliação da disciplina "Prêmios Nobel em Biociências", coordenada pelo professor David Majerowicz.
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