Pular para o conteúdo principal

[Blog da Giulianna] Descoberta do mecanismo da inflamação dentária que atua na perda óssea


Entre crianças e adolescentes, as cáries são o principal problema da boca, segundo dados da Pesquisa Nacional de Saúde Bucal, que vem sendo realizada pelo Governo Federal. O levantamento mostra ainda que cerca de 45 % dos idosos de 65 a 74 anos precisam de tratamento imediato, devido à dor ou infecção dentária, e, entre adultos de 35 a 44 anos, foi identificada a necessidade de ao menos um procedimento odontológico eletivo em 48 % da população avaliada.

Pesquisadores da USP realizaram experimentos em camundongos para investigar os mecanismos relacionados à inflamação nos dentes, com o objetivo de desenvolver terapias para inibir a perda óssea decorrente de infecção. Eles identificaram que a via de sinalização mediada pela citocina pró-inflamatória TNF-α e seu receptor TNFR1 desempenha um papel crítico nesse processo. Em certas condições, essa via protege e permite a reparação do dente, mas em outros casos, leva a uma resposta inflamatória com perda óssea, dependendo da presença de microrganismos.

Um dos estudos demonstrou que o receptor TNFR1 está envolvido na formação de dentina reparadora após a retirada parcial da cárie do dente. Quando esse receptor é desativado geneticamente, ocorre uma alteração na resposta inflamatória e na produção de proteínas essenciais para a mineralização dentária, levando à necrose da polpa dentária e ao desenvolvimento de uma inflamação na parte inferior do dente.

Foi avaliada a formação de dentina reparadora que é a formada após um trauma, após a retirada parcial da cárie e a colocação de agregado de trióxido mineral. Após sete e 70 dias, os tecidos foram coletados para avaliação, tendo-se uma comparação das respostas de reparo da polpa dentária de camundongos geneticamente deficientes do receptor TNFR1 de TNF-α com roedores normais. Assim, foi observado que na falta do receptor TNFR1, a resposta inflamatória é muito grande, resultando na perda óssea devido ao recrutamento de células que fazem a reabsorção do tecido.

No estudo também foi avaliada a via de sinalização TNF-α-TNFR1 frente à infecção, na qual os pesquisadores induziram uma inflamação no dente ao colocar microrganismos da boca dentro das raízes de molares dos camundongos e compararam os resultados com camundongos saudáveis. concluiu-se que os roedores sem TNFR1 exibiram menor número de neutrófilos (uma célula do sistema de defesa do corpo), resultando em diminuição da área e do volume da inflamação, e menor número de osteoclastos (células responsáveis pela reabsorção óssea).

Portanto, bloquear a via TNF-α-TNFR1 pode reduzir os efeitos negativos da inflamação e da perda óssea e possibilita o estudo de possíveis terapias que visam inibir a perda óssea decorrente de infecções nos dentes. Tal possibilidade está sendo estudada pelo grupo explorando perspectivas terapêuticas com base nesses achados, embora ainda esteja na fase inicial de pesquisa em modelos animais.

Referências:


Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, suco de melão São Caetano não é a cura do câncer

Recebi pelo Facebook um link para uma postagem do blogue Cura pela Natureza . Lá é descrito o poder de uma planta medicinal capaz de curar o câncer, controlar o diabetes e, de quebra, fortalecer a imunidade do corpo. Sinistro, né? A planta em questão é chamada de melão São Caetano ou melão amargo. Conhecida cientificamente como Momordica charantia , essa planta faz parte da família Cucurbitaceae, junto com outras plantas famosas, como a abóbora, o pepino e a melancia. Ela cresce bem nas áreas tropicais e subtropicais da África, Ásia e Austrália, e foi trazida ao Brasil pelos escravos. O texto cita o Dr. Frank Shallenberger, dos Estados Unidos, que seria o descobridor dos efeitos medicinais da planta. Fui então atrás das pesquisas publicadas pelo Dr. Shallenberger para saber mais sobre os poderes do melão São Caetano. E descobri que ele nunca publicou nenhum trabalho científico sobre a planta (na verdade, ele nunca publicou qualquer coisa!). Como que a

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?

Ontem, eu recebi pelo Facebook um vídeo de uma entrevista com o Dr. José Roberto Kater onde ele comenta sobre os benefícios do ovo na alimentação. Porém, algumas coisas me soaram um pouco, digamos, curiosas (na verdade, em pouco mais de três minutos de vídeo poucas coisas pareceram normais (o vídeo completo está disponível no fim do texto)). O Dr. Kater é, segundo a Internet, médico, obstetra, nutrólogo, antroposófico (a medicina antroposófica é um ramo alternativo com base em noções ocultas e espirituais), homeopata, acupunturista e com mais algumas outras especialidades. Porém, não é cientista, já que não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes (do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, CNPq) ou assina qualquer artigo científico indexado em banco de dados internacional. Para mim, o cara pode dizer que é o Papa, eu não vou acreditar nele de primeira. As informações científicas estão disponíveis e eu fui pesquisar para entender se o Dr. Kater é um visionário ou ch