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[Blog da Giulianna] Vacinas contra a Dengue: Dengvaxia e QDenga


A dengue, uma doença viral transmitida pelo mosquito Aedes aegypti, representa um desafio significativo para a saúde pública no Brasil. De acordo com dados recentes do Ministério da Saúde, em 2022, o país registrou quase um milhão e meio de casos de dengue. Em 2023, houve um aumento alarmante de 43,8 % nos casos até março, comparado ao mesmo período do ano anterior. O Brasil é apontado como o país com o maior número de casos de dengue no mundo, segundo a OMS, com 2,9 milhões de casos e pelo menos 1.094 mortes em 2023. Nos primeiros três meses do ano de 2024, o número de mortes chegou a 923 e o número de pessoas com dengue ultrapassou os 2,5 milhões de casos.

Diante desse cenário, duas vacinas contra a dengue foram desenvolvidas e aprovadas no Brasil: Dengvaxia®, da Sanofi, e QDenga®, da Takeda, sendo disponibilizadas na rede privada e, apenas a QDenga, na rede pública. Ambas são atenuadas (o vírus encontra-se ativo, mas sem capacidade de produzir a doença) e oferecem proteção contra os quatro sorotipos do vírus: DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4. Dengvaxia®, indicada para pessoas de 6 a 45 anos, demonstrou eficácia de até 65 % para doença sintomática e 93 % para dengue hemorrágica. Já a QDenga®, aplicada em indivíduos de 4 a 60 anos, apresentou eficácia global de 80,2 %, com destaque para 95 % contra o sorotipo DENV-2.

As vacinas utilizam tecnologia de DNA recombinante, inserindo genes dos sorotipos do vírus da dengue na estrutura genética de um vírus atenuado. Dengvaxia® usa o vírus da febre amarela, enquanto QDenga® utiliza o próprio DENV-2 atenuado. Os esquemas de doses variam: três doses para Dengvaxia® em seis meses e duas doses para QDenga® em três meses, ambos administrados por via subcutânea.

As contraindicações incluem alergia grave aos componentes, gestação, lactação, imunodeficiências e HIV com evidência de função de defesa do corpo comprometida. Efeitos colaterais comuns são dor de cabeça, dor no local da injeção e mal-estar. A vacina QDenga® é indicada para soronegativos (quem nunca teve Dengue) e soropositivos (quem já teve) e a Dengvaxia® é contraindicada para quem não teve contato prévio com o vírus da dengue.

Com a inclusão da vacina contra a dengue no SUS, a QDenga® é priorizada para crianças e adolescentes de 6 a 16 anos, seguindo recomendações da OMS, uma vez que a mortalidade é maior nos grupos mais jovens e não se tem quantidade de doses suficiente para imunizar todas as faixas etárias. Apesar de representar um avanço na prevenção, é enfatizado que a vacina não substitui as medidas de controle do vetor Aedes aegypti, atuando apenas na redução da mortalidade. Ainda é necessário continuar intensificando ações de prevenção e controle para enfrentar o desafio da dengue no país. A nova vacina é vista como um primeiro passo, e o impacto positivo dependerá da cobertura vacinal e da aquisição de mais doses para ampliar a imunização.

Referências:





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