O câncer é uma doença de causa
simples: um crescimento desregulado de um grupo de células do paciente. Porém,
o processo que dispara essa desregulação pode ser bem complexo e é diferente
entre os diversos tipos de câncer. Dessa forma, seria bem ingênuo acreditar em
uma única cura para todos os diferentes cânceres. No fundo desse crescimento
celular descontrolado normalmente estão mutações em genes que regulam a divisão
das células. Imagine que um gene impeça que uma célula se divida. E agora
imagine que esse gene seja danificado em uma célula e pare de funcionar. O que
vai acontecer? Essa célula vai se dividir sem controle e pode se tornar um
tumor. Descobrir e estudar esses genes – chamados de oncogenes – são os
objetivos de diversos grupos de pesquisa pelo mundo. Essas pesquisas podem
ajudar o desenvolvimento de novas formas de combater o câncer. E uma delas
acaba de ser publicada na importante revista The New England Journal of Medicine.
Esse trabalho, cientistas da
França e dos Estados Unidos, estudaram pacientes acometidos de uma rara doença
renal, chamada hiperplasia adrenal macronodular independente de corticotropina
(Ufa!). Essa doença é caracterizada pela formação de inúmeros tumores nas
glândulas adrenais, localizadas em cima dos rins e responsáveis pela produção
de hormônios, como cortisol. Problemas na produção de hormônios causam várias
doenças, como hipotireoidismo ou diabetes. E no caso do cortisol não é
diferente! Essa doença de nome difícil, que eu não vou escrever de novo, é uma
das causas da Síndrome de Cushing, derivada do excesso de produção de cortisol.
Se não for tratada, essa síndrome pode levar a pressão alta, doenças cardíacas,
osteoporose e diabetes. Porém, o crescimento dos tumores e a desregulação na
produção de cortisol é lenta, o que faz com que a doença demore a ser
diagnosticada. Além disso, o fato dos tumores aparecerem normalmente nas duas
glândulas adrenais indicava uma possível origem genética da doença (Se a origem
fosse devido a algum fator ambiente qualquer, seria mais comum uma das
glândulas serem afetadas e não as duas...)
Os pesquisadores analisaram o
genoma de 33 pacientes com a doença e descobriram que muitos deles apresentam
alterações no cromossomo (estrutura onde o DNA está organizado) 16. E, mais
precisamente, alguns tumores tinham modificações no gene chamado ARMC5,
localizado nesse cromossomo. A quantidade da proteína produzida pelo gene ARMC5
estava reduzida na maioria dos pacientes, indicando que o gene realmente tinha
problemas no seu funcionamento. E o mais
interessante: quando parentes diretos (sadios) desses pacientes também foram
geneticamente analisados, mais da metade apresentavam a mutação. E quase todos
já possuíam pequenos tumores nas glândulas adrenais. Ou seja, eles foram
precocemente diagnosticados.
Os cientistas não fazem a menor
ideia da função do gene ARMC5 nas células. Mas ele parece estar envolvido com o
metabolismo de RNA (uma molécula intermediária entre o gene e a proteína) e com
a produção do hormônio cortisol. Além disso, quando os cientistas forçaram a
produção excessiva dessa proteína em células mantidas em laboratório, elas
morreram. Isso indica que ARMC5 regula o crescimento das células e pode ser
considerado um novo oncogene.
Esse estudo trouxe novas
informações que vão permitir o desenvolvimento de teste para diagnóstico dessa
doença renal rara e ajudar na prevenção. E mostra como os habitantes da Torre
estão trabalhando no caminho da cura do câncer.
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