Um dos maiores problemas de saúde no mundo atual é a diabetes, uma vez que, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 425 milhões de pessoas possuem a doença ao redor do mundo. Isso representa mais de 6 % da população mundial. No Brasil, os dados são ainda mais alarmantes, já que mais de 8 % dos brasileiros são diabéticos e a taxa de incidência da doença cresceu 61,8 % no período entre 2008 e 2018.
A diabetes é uma doença cujo principal sintoma é o aumento da glicose no sangue (hiperglicemia), sendo que, dependendo do motivo gerador da hiperglicemia, a diabetes é caracterizada como um tipo diferente. Os dois principais tipos da doença são, a diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.
A diabetes mellitus tipo 2 é o tipo mais comum da doença, representando cerca de 90 % dos casos de diabetes. Ela costuma ocorrer em pessoas mais velhas e com maus hábitos de vida, como sedentarismo e dieta muito rica em carboidratos. Esse tipo de diabetes é caracterizado por problemas na ação do hormônio insulina, criando um quadro onde o corpo não sente os efeitos do hormônio.
Enquanto isso, a diabetes mellitus tipo 1 é resultado da ausência de insulina, devido a morte das células β-pancreáticas, que produzem o hormônio. Essa é uma doença autoimune, onde o próprio organismo gera anticorpos que atacam as células β (beta), levando a uma deficiência de insulina. A diabetes mellitus tipo 1 costuma se manifestar na infância, ou adolescência, e seus portadores representam de 6 a 9 % dos casos de diabetes. Com isso, devem existir de 25 a 38 milhões de diabéticos do tipo 1 pelo mundo. Vale ressaltar também que, caso não sejam tratados, diabéticos do tipo 1 apresentam sintomas mais intensos que os diabéticos do tipo 2, pois a falta de insulina no organismo causa graves problemas.
A insulina é o hormônio responsável por estimular as células a tirar glicose do sangue. Portanto, defeitos em sua produção, ou na sua ação, provocam hiperglicemia. O principal tratamento atualmente para a diabetes tipo 1 é o uso de doses diárias de insulina, que podem ser por injeção, inalação e até mesmo por bomba automática. Por esse motivo, diabéticos do tipo 1 são chamados de “insulino dependentes”, enquanto que os diabéticos do tipo 2, que são resistentes ao hormônio insulina, recebem o nome de “insulino resistentes” ou “não insulino dependentes”.
O uso de insulina externa como tratamento para a diabetes tipo 1 já salvou muitas vidas desde o início do século passado e apresenta ótimos resultados dentre os pacientes. Entretanto, algumas pessoas enfrentam dificuldades com o armazenamento da insulina, ou em sua dosagem, o que os leva a ter diversos quadros de desregulação da glicemia. Visando facilitar a vida dessas pessoas e, ao mesmo tempo, oferecer um tratamento permanente para a diabetes, o transplante de ilhotas pancreáticas tem sido desenvolvido como uma futura cura para a doença.
O pâncreas é um órgão que pode ser divido em duas partes, uma exócrina e uma endócrina. A parte exócrina produz enzimas digestivas e compõe o sistema digestório, enquanto que a parte endócrina produz, principalmente, insulina e glucagon. A parte endócrina do pâncreas é formada pelas ilhotas de Langerhans, ou ilhotas pancreáticas. Essas ilhotas são grupos de células, formados principalmente pelas células α (alfa) e β. As células α são as responsáveis pela produção de glucagon, enquanto as células β produzem insulina. Na diabetes mellitus tipo 1, a maioria das células β é destruída, enquanto as células α se mantém, isso faz com que os níveis de insulina sejam muito baixos em relação aos de glucagon, o que dificulta a saída da glicose do sangue para os tecidos.
O transplante de ilhotas pancreáticas tem o intuito de restabelecer uma quantidade razoável de células β, acabando com a diabetes do tipo 1. Para ocorrer o transplante, inicialmente são extraídas ilhotas do pâncreas saudável de um, ou mais, doadores. Em seguida, essas ilhotas são preparadas e implantadas no fígado do paciente diabético. A escolha do fígado como local do implante é devido à capacidade elástica do órgão, que consegue acomodar o volume da infusão de células. Por outro lado, o fígado possui menos oxigenação que o pâncreas e é um órgão mais exposto a toxinas, o que gera dúvidas se o mesmo é realmente o órgão mais adequado para o transplante.
É importante ressaltar que, assim como em qualquer outro tipo de transplante, o paciente receptor das ilhotas pancreáticas terá que tomar medicamentos para reduzir a atividade do seu sistema de defesa natural, processo chamado de imunossupressão. Caso contrário, o organismo reagirá às ilhotas como um corpo estranho e tentará destruí-las. Com isso os principais efeitos negativos do transplante de ilhotas pancreáticas são devidos à imunossupressão, como a própria baixa imunidade, aumento da pressão arterial e danos ao fígado. Caso o indivíduo não possua diabetes tipo 1, mas por algum motivo precise retirar o pâncreas, é possível transplantar suas próprias ilhotas para o fígado e não é necessária imunossupressão.
No geral, o transplante de ilhotas é um procedimento pouco invasivo e apresenta baixo risco se comparado com o transplante de pâncreas tradicional, procedimento que também está ligado à diabetes tipo 1, em alguns casos. Entretanto, infelizmente o transplante de ilhotas pancreáticas ainda é um tratamento experimental, devido, principalmente, ao baixo número de doadores de ilhotas, além da baixa duração dos efeitos do tratamento, que costumam valer por um ou dois anos apenas.
Em conclusão, o transplante de ilhotas pancreáticas é um tratamento com grande potencial, mas que também enfrenta grandes obstáculos. Pesquisas têm sido feitas para tornar o procedimento o mais viável e eficiente possível, o que nos deixa com a esperança de que, dentro de alguns anos, o mesmo se mostre como a tão esperada cura para a diabetes mellitus tipo 1.
Referências:
AITA, C.; SOGAYAR, M.; ELIASHEWITZ, F. Transplante de Ilhotas: uma alternativa atraente para diabéticos. Ciência Hoje. 2004.
ELIASHEWITZ, F. et al. Transplante de ilhotas na prática clínica: estado atual e perspectivas. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia. v. 53, n. 1, p. 15-23. 2009.
GILLARD, P., KEYMEULEN, B., MATHIEU, C. Beta-cell transplantation in type 1 diabetic patients: a work in progress to cure. Verh K Acad Geneeskd Belg. v. 72, n. 1-2, p. 71-98. 2010.
IPCT. Pesquisadores recriam ilhotas pancreáticas em laboratório e tratam com sucesso a diabetes tipo 1 em ratos. 2018.
NIDDKD. Pancreatic Islet Transplantation. 2018.
SBD. Atlas IDF 2017 – Diabetes no Brasil. 2017.
A diabetes é uma doença cujo principal sintoma é o aumento da glicose no sangue (hiperglicemia), sendo que, dependendo do motivo gerador da hiperglicemia, a diabetes é caracterizada como um tipo diferente. Os dois principais tipos da doença são, a diabetes mellitus tipo 1 e tipo 2.
A diabetes mellitus tipo 2 é o tipo mais comum da doença, representando cerca de 90 % dos casos de diabetes. Ela costuma ocorrer em pessoas mais velhas e com maus hábitos de vida, como sedentarismo e dieta muito rica em carboidratos. Esse tipo de diabetes é caracterizado por problemas na ação do hormônio insulina, criando um quadro onde o corpo não sente os efeitos do hormônio.
Enquanto isso, a diabetes mellitus tipo 1 é resultado da ausência de insulina, devido a morte das células β-pancreáticas, que produzem o hormônio. Essa é uma doença autoimune, onde o próprio organismo gera anticorpos que atacam as células β (beta), levando a uma deficiência de insulina. A diabetes mellitus tipo 1 costuma se manifestar na infância, ou adolescência, e seus portadores representam de 6 a 9 % dos casos de diabetes. Com isso, devem existir de 25 a 38 milhões de diabéticos do tipo 1 pelo mundo. Vale ressaltar também que, caso não sejam tratados, diabéticos do tipo 1 apresentam sintomas mais intensos que os diabéticos do tipo 2, pois a falta de insulina no organismo causa graves problemas.
A insulina é o hormônio responsável por estimular as células a tirar glicose do sangue. Portanto, defeitos em sua produção, ou na sua ação, provocam hiperglicemia. O principal tratamento atualmente para a diabetes tipo 1 é o uso de doses diárias de insulina, que podem ser por injeção, inalação e até mesmo por bomba automática. Por esse motivo, diabéticos do tipo 1 são chamados de “insulino dependentes”, enquanto que os diabéticos do tipo 2, que são resistentes ao hormônio insulina, recebem o nome de “insulino resistentes” ou “não insulino dependentes”.
O uso de insulina externa como tratamento para a diabetes tipo 1 já salvou muitas vidas desde o início do século passado e apresenta ótimos resultados dentre os pacientes. Entretanto, algumas pessoas enfrentam dificuldades com o armazenamento da insulina, ou em sua dosagem, o que os leva a ter diversos quadros de desregulação da glicemia. Visando facilitar a vida dessas pessoas e, ao mesmo tempo, oferecer um tratamento permanente para a diabetes, o transplante de ilhotas pancreáticas tem sido desenvolvido como uma futura cura para a doença.
O pâncreas é um órgão que pode ser divido em duas partes, uma exócrina e uma endócrina. A parte exócrina produz enzimas digestivas e compõe o sistema digestório, enquanto que a parte endócrina produz, principalmente, insulina e glucagon. A parte endócrina do pâncreas é formada pelas ilhotas de Langerhans, ou ilhotas pancreáticas. Essas ilhotas são grupos de células, formados principalmente pelas células α (alfa) e β. As células α são as responsáveis pela produção de glucagon, enquanto as células β produzem insulina. Na diabetes mellitus tipo 1, a maioria das células β é destruída, enquanto as células α se mantém, isso faz com que os níveis de insulina sejam muito baixos em relação aos de glucagon, o que dificulta a saída da glicose do sangue para os tecidos.
O transplante de ilhotas pancreáticas tem o intuito de restabelecer uma quantidade razoável de células β, acabando com a diabetes do tipo 1. Para ocorrer o transplante, inicialmente são extraídas ilhotas do pâncreas saudável de um, ou mais, doadores. Em seguida, essas ilhotas são preparadas e implantadas no fígado do paciente diabético. A escolha do fígado como local do implante é devido à capacidade elástica do órgão, que consegue acomodar o volume da infusão de células. Por outro lado, o fígado possui menos oxigenação que o pâncreas e é um órgão mais exposto a toxinas, o que gera dúvidas se o mesmo é realmente o órgão mais adequado para o transplante.
É importante ressaltar que, assim como em qualquer outro tipo de transplante, o paciente receptor das ilhotas pancreáticas terá que tomar medicamentos para reduzir a atividade do seu sistema de defesa natural, processo chamado de imunossupressão. Caso contrário, o organismo reagirá às ilhotas como um corpo estranho e tentará destruí-las. Com isso os principais efeitos negativos do transplante de ilhotas pancreáticas são devidos à imunossupressão, como a própria baixa imunidade, aumento da pressão arterial e danos ao fígado. Caso o indivíduo não possua diabetes tipo 1, mas por algum motivo precise retirar o pâncreas, é possível transplantar suas próprias ilhotas para o fígado e não é necessária imunossupressão.
No geral, o transplante de ilhotas é um procedimento pouco invasivo e apresenta baixo risco se comparado com o transplante de pâncreas tradicional, procedimento que também está ligado à diabetes tipo 1, em alguns casos. Entretanto, infelizmente o transplante de ilhotas pancreáticas ainda é um tratamento experimental, devido, principalmente, ao baixo número de doadores de ilhotas, além da baixa duração dos efeitos do tratamento, que costumam valer por um ou dois anos apenas.
Em conclusão, o transplante de ilhotas pancreáticas é um tratamento com grande potencial, mas que também enfrenta grandes obstáculos. Pesquisas têm sido feitas para tornar o procedimento o mais viável e eficiente possível, o que nos deixa com a esperança de que, dentro de alguns anos, o mesmo se mostre como a tão esperada cura para a diabetes mellitus tipo 1.
Referências:
AITA, C.; SOGAYAR, M.; ELIASHEWITZ, F. Transplante de Ilhotas: uma alternativa atraente para diabéticos. Ciência Hoje. 2004.
ELIASHEWITZ, F. et al. Transplante de ilhotas na prática clínica: estado atual e perspectivas. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabologia. v. 53, n. 1, p. 15-23. 2009.
GILLARD, P., KEYMEULEN, B., MATHIEU, C. Beta-cell transplantation in type 1 diabetic patients: a work in progress to cure. Verh K Acad Geneeskd Belg. v. 72, n. 1-2, p. 71-98. 2010.
IPCT. Pesquisadores recriam ilhotas pancreáticas em laboratório e tratam com sucesso a diabetes tipo 1 em ratos. 2018.
NIDDKD. Pancreatic Islet Transplantation. 2018.
SBD. Atlas IDF 2017 – Diabetes no Brasil. 2017.
A medicina avançando cada vez mais... como os tempos mudaram ñ é mesmo?
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