Pular para o conteúdo principal

[Chute do Nobel T1E4] Na sua opinião, quem poderá ganhar o Prêmio Nobel?


Max D. Cooper e Jacques Miller podem ser os possíveis ganhadores do Prêmio Nobel 2019, com o estudo que se iniciou em 1960 com a descoberta das duas classes de linfócitos B e T, gerando o princípio organizador do sistema imunológico adaptativo. Os linfócitos são um tipo de glóbulos brancos, que atuam na defesa do nosso organismo contra microrganismos potencialmente perigosos para a saúde.

O sistema imunológico está constituído por uma rede interligada de órgãos, células e moléculas que possuem a finalidade de manter a homeostase, ou seja, o equilíbrio do organismo, combatendo as agressões de uma forma geral.

A imunidade adaptativa depende da ativação dos linfócitos, tais como moléculas solúveis que são produzidos por eles. As principais características da resposta adquirida são: especificidade e diversidade de reconhecimento, memória, especialização da resposta, autolimitação e tolerância a componentes do próprio organismo. O linfócito pode ser considerado a principal célula envolvida na resposta imune adquirida, porém as células apresentadoras de antígenos desempenham uma função fundamental em sua ativação, pois apresentam antígenos associados a moléculas do complexo de histocompatibilidade principal (MHC, major histocompatibility complex) para linfócitos T.

A principal função do linfócito B é a produção de anticorpos que são proteínas usadas pelo sistema imunológico para identificar e neutralizar corpos estranhos como vírus, bactéria e células tumorais. Os anticorpos são conhecidos como imunoglobulinas (Ig), e são produzidos e secretados em resposta à presença de antígenos. Os antígenos são moléculas alvo dos anticorpos, que apresentam diferentes estruturas químicas e podem estimular a ativação do sistema imune, quando relacionados a organismos estranhos. Cada anticorpo produzido reconhece um epítopo ou porção específica do antígeno. A especificidade entre as moléculas pode determinar a afinidade ou força de interação entre elas. Essa especificidade também garante uma ação mais precisa sobre o alvo. Por meio desta interação antígeno-anticorpo, microrganismos podem ser diretamente neutralizados ou podem ser atacados por outros componentes do sistema imunológico que passam a reconhecê-los.

A partir da classificação e identificação das funções dos linfócitos, novos trabalhos científicos foram realizados utilizando esta base para a produção de anticorpos monoclonais (mAbs), que são produzidos por um único clone de um linfócito B, sendo idênticos em relação às suas propriedades físico-químicas e biológicas. Diferentes tipos de mAbs podem ser gerados em laboratório para reconhecer e se ligar ao respectivos antígenos de interesse. Um experimento inicial que gerou novas perspectivas para o desenvolvimento da imunoterapia, foi publicado em 1975 pela Revista Nature, com o título: “Continuous cultures of fused cells secreting antibody of predefined specificity”, pelos cientistas César Milstein e Georges Köhler, garantindo o prêmio Nobel em 1984 juntamente com o cientista dinamarquês Niels Kaj Jerne.

A utilização de anticorpos monoclonais têm sido indicado como tecnologia inovadora para o tratamento de alguns tipos de câncer, devido a capacidade de impactar e destruir seletivamente células tumorais. Os mAbs também são amplamente utilizados em tratamento de doenças auto-imune, como a artrite reumatoide. Apesar de todo benefício para o paciente, os altos custos destes produtos, devido a biotecnologia empregada para o seu desenvolvimento elevam os valores destas terapias e colocam em questão a sustentabilidade do acesso. Para medicina clínica, a imunoterapia representa um campo em desenvolvimento com possibilidades de medicamentos seguros, eficazes com pequenos efeitos adversos, principalmente quando relacionado ao tratamento do câncer. Porém estes estudos e resultados obtidos até o presente momento, só foram possíveis devido a descoberta inicial dos linfócitos B e T e a organização do sistema imunológico, por Max Cooper e Jacques Miller. Vale ressaltar que ambos foram receberam o Prêmio Albert Lasker de Pesquisa Médica Básica de 2019, pela descoberta que lançou o curso de Imunologia Moderna.

Esse texto foi escrito pela aluna de doutorado Carla Mariah de Oliveira Fujimaki como parte da avaliação da disciplina "Prêmios Nobel das Ciências Farmacêuticas" do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenada pelo professor David Majerowicz, junto com os professores Renato C. Sampaio e Heitor A. de Paula Neto.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Não, suco de melão São Caetano não é a cura do câncer

Recebi pelo Facebook um link para uma postagem do blogue Cura pela Natureza . Lá é descrito o poder de uma planta medicinal capaz de curar o câncer, controlar o diabetes e, de quebra, fortalecer a imunidade do corpo. Sinistro, né? A planta em questão é chamada de melão São Caetano ou melão amargo. Conhecida cientificamente como Momordica charantia , essa planta faz parte da família Cucurbitaceae, junto com outras plantas famosas, como a abóbora, o pepino e a melancia. Ela cresce bem nas áreas tropicais e subtropicais da África, Ásia e Austrália, e foi trazida ao Brasil pelos escravos. O texto cita o Dr. Frank Shallenberger, dos Estados Unidos, que seria o descobridor dos efeitos medicinais da planta. Fui então atrás das pesquisas publicadas pelo Dr. Shallenberger para saber mais sobre os poderes do melão São Caetano. E descobri que ele nunca publicou nenhum trabalho científico sobre a planta (na verdade, ele nunca publicou qualquer coisa!). Como que a

Não, a fosfoamina não é (ainda) a cura do câncer

Em agosto desse ano, uma reportagem do portal G1 mostrou a luta de pacientes com câncer na justiça para receber cápsulas contendo o composto fosfoamina (na verdade, fosfoetanolamina) que supostamente curaria a doença. O “remédio” era produzido e distribuído pelo campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Carlos, mas a distribuição foi suspensa por decisão da própria reitoria, já que o composto não é registrado na ANVISA (todo remédio comercializado no país deve ser registrado) e não teve eficiência comprovada. Porém, alguns dos pacientes tratados com a fosfoamina relatam que foram curados e trazem exames e outras coisas para provar. Segundo o professor aposentado Gilberto O. Chierice (que participou dos estudos com a substância), “A fosfoamina está aí, à disposição, para quem quiser curar câncer”. Mas, vamos devagar, professor Gilberto; se a fosfoamina realmente é a cura para o câncer, por que não foi pedido o registro na ANVISA? O Governo Federal poderia produzir gran

Dr. José Roberto Kater e o ovo: vilões ou mocinhos?

Ontem, eu recebi pelo Facebook um vídeo de uma entrevista com o Dr. José Roberto Kater onde ele comenta sobre os benefícios do ovo na alimentação. Porém, algumas coisas me soaram um pouco, digamos, curiosas (na verdade, em pouco mais de três minutos de vídeo poucas coisas pareceram normais (o vídeo completo está disponível no fim do texto)). O Dr. Kater é, segundo a Internet, médico, obstetra, nutrólogo, antroposófico (a medicina antroposófica é um ramo alternativo com base em noções ocultas e espirituais), homeopata, acupunturista e com mais algumas outras especialidades. Porém, não é cientista, já que não tem currículo cadastrado na Plataforma Lattes (do Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento, CNPq) ou assina qualquer artigo científico indexado em banco de dados internacional. Para mim, o cara pode dizer que é o Papa, eu não vou acreditar nele de primeira. As informações científicas estão disponíveis e eu fui pesquisar para entender se o Dr. Kater é um visionário ou ch