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[Chute do Nobel T1E6]


Acredito que H. Michael Shepard, Dennis J. Slamon e Axel Ullrich sejam os ganhadores do Nobel deste ano com a descoberta do Herceptin – uma terapia usando anticorpos para tratamento do câncer de mama.

Shepard formou-se em zoologia (biologia celular e do desenvolvimento) na UC Davis em 1973, depois obteve um Ph.D. em biologia celular e do desenvolvimento e genética na Universidade Indiana Bloomington em 1980. Já Slamon, graduou em 1975 em medicina pela Universidade de Chicago e obteve Ph.D em biologia celular no mesmo ano. Ullrich se formou como bioquímico na Universidade de Tubingen (Alemanha) e obteve um Ph.D. em Heidelberg em genética molecular no ano de 1975. Shepard e Ullrich realizaram investigações sobre uma terapia para um tipo de câncer de mama específico na Genentech, enquanto Slamon fez a sua pesquisa na Universidade da Califórnia, Los Angeles UCLA, onde continua trabalhando como médico e cientista. Esses pesquisadores descobriram que certos tipos de câncer poderiam ter grande quantidade de uma proteína especifica, chamada de HER2, e que era essa substância a responsável por causar o crescimento e persistência do câncer de mama no paciente. Pensando nisso, eles buscaram desenvolver uma terapia que impedisse que HER2 estimulasse o desenvolvimento do câncer. Eles demonstraram que os anticorpos – proteínas que podem se ligar as células de câncer e a outras substâncias estranhas ao organismo – eram uma boa opção para tratar câncer de mama que apresentava grande quantidade de HER2, sendo tal descoberta revolucionária. Inúmeros estudos foram realizados em laboratório e, também, em grupos de pessoas com esse tipo de câncer de mama específico – o chamado de estudo clínico. Com a realização desse estudo clínico, foi possível observar que os pacientes que fizeram uso dessa terapia não tiveram a progressão da doença e, ainda, tiveram maior sobrevida do que com a quimioterapia isolada. Tal resultado fez com que, em 1998, esse tratamento fosse aprovado pelo FDA - agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (o equivalente à nossa ANVISA). Com isso, esse novo medicamento – chamado atualmente de Trastuzumabe - começou a ser usado para tratar o câncer de mama que tinha a proteína HER2 em excesso, o qual corresponde a cerca de 20 a 25% de todos os tipos de câncer de mama. Esse medicamento tem um alvo muito específico no organismo do paciente que apresenta a doença e quanto mais específico é a terapia, menor serão os efeitos colaterais a ela. Portanto, uma grande contribuição dessa descoberta foi, também, a proposta de um tratamento com menos desconforto para o paciente, apesar de que ainda assim poderia apresentar alguns efeitos importantes no coração, os quais deveriam ser acompanhados durante o tratamento. Segundo o INCA, Instituto Nacional do Câncer, acredita-se que em 2019 serão diagnosticados 59.700 novos casos de câncer de mama no Brasil, o que representa cerca de 29,5% dos cânceres em mulheres. Já nos Estados Unidos, 50.000 mulheres são diagnosticadas com esse tipo de câncer todo ano. Com isso, é possível observar que essa é uma doença que se faz presente hoje em dia na vida de diversas mulheres, sendo observada tanto em países mais desenvolvidos quanto nos em desenvolvimento. A importância dessa descoberta fica cada vez mais clara ao observar o elevado número de casos dessa doença, pois isso evidencia a necessidade de se ter um tratamento efetivo para esse grande percentual da população. Além disso, cerca de 2,3 milhões de indivíduos já fizeram uso desse medicamento, o que confirma novamente o quão necessária e revolucionária foi essa descoberta para o tratamento de diversos indivíduos. Tendo em vista todos esses dados, acredito que esses pesquisadores sejam os ganhadores do Prêmio Nobel de Medicina no ano de 2019.

Referências:





WARREN ALPERT FOUNDATION PRIZE. Axel Ullrich. 2016.

Esse texto foi escrito pela aluna de mestrado Lilian Casartelli Colodeti como parte da avaliação da disciplina "Prêmios Nobel das Ciências Farmacêuticas" do Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas da Universidade Federal do Rio de Janeiro, coordenada pelo professor David Majerowicz, junto com os professores Renato C. Sampaio e Heitor A. de Paula Neto

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