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Fonte: hypescience.com |
A forma como a gente escolhe o que vai comer tem grande influência sobre o nosso peso, e assim é ponto importante para se evitar a obesidade e todos os problemas de saúde que ela traz junto, como pressão, colesterol e glicose altos. Já escrevi aqui que isso pode ter um fundo genético. Mas, ao que parece, as bactérias que você carrega de carona na barriga (sua microbiota intestinal) podem estar manipulando seu corpo e te fazendo comer o que elas querem, na hora que elas querem. E isso nem sempre é o mais saudável para você. Essa disputa entre a microbiota intestinal e você na hora que escolher o almoço no cardápio vem sendo estudada recentemente. E força de vontade para não comer no Burger King pode não ser suficiente!
A sua microbiota é composta de uma grande diversidade de bactérias, onde cada tipo de bactérias cresce melhor com diferentes tipos de alimentos que você come. Se alguma dessas bactérias pudesse produzir um tipo de substância que induzisse você a comer mais o que é melhor para ela, ela teria vantagem sobre as outras e cresceria mais. Essa situação é um prato cheio para o processo evolutivo! Assim, a evolução desenvolveu diferentes formas das bactérias influenciarem o que os seus hospedeiros (nós!) comem. E elas podem fazer isso na amizade ou esculachando!
O cérebro tem um sistema químico de recompensa para coisas prazerosas. Quando você faz alguma coisa que te dá prazer, substâncias são liberadas pelos neurônios no cérebro e você tem uma sensação legal. Na amizade, as bactérias intestinais podem ser capazes de produzir essas mesmas substâncias que o nosso sistema nervoso usa para comunicar a sensação de recompensa no cérebro. Assim, elas podem reforçar a recompensa que você sente quando come algo que elas próprias gostam. E isso dificilmente será alface, mas sim alimentos com grande quantidade de energia, como gordura e açúcar, que as bactérias vão usar também. A microbiota também pode regular a produção de hormônios do corpo que controlam as sensações de fome e saciedade, o que pode levar o indivíduo a comer mais ou menos.
As bactérias intestinais também podem agir diretamente sobre os nervos que levam as informações do sistema digestório para o cérebro. Essa comunicação é importante para que o estômago e intestinos indiquem ao cérebro o quanto cheio eles estão e para que o cérebro decida se é hora ou não de comer mais. Assim, a ação da microbiota sobre esse nervo pode influenciar o quanto você come diariamente.
As bactérias também são capazes de mudar a quantidade de receptores gustativos pelo sistema digestório como um todo. Os receptores gustativos são proteínas produzidas pelas células que se ligam a diferentes componentes do alimento e passa a informação do sabor para o cérebro. Temos na boca receptores gustativos para coisas doces, azedas, entre outros. Uma alteração nesses receptores pode mudar como o indivíduo sente o gosto da comida e levar a uma variação na dieta, por exemplo, fazendo uma pessoa a comer mais coisas doces ou gordurosas.
Agora, se não funcionar na base da amizade, a microbiota parte para o ataque. As bactérias produzem substâncias tóxicas quanto não estão vivendo em condições ideais, como, por exemplo, falta de nutrientes que elas precisam. A presença dessas toxinas causa um grande mal-estar e pode levar a uma mudança na alimentação do indivíduo, meio que na marra.
A estreita relação entre nós, nossas bactérias intestinais e a forma como a gente come começou a ser estudada apenas recentemente e muitas das possibilidades ainda precisa ser estudadas em animais e em humanos para termos ideia do real impacto sobre as nossas vidas. Porém, a grande lista de pesquisas científicas que abordam o assunto indica que a microbiota do intestino não pode ser ignorada e precisa ser mais bem compreendida, já que está em conversa direta com a nossa alimentação e a atual epidemia de obesidade.
Mas o que importa é que achei a desculpa ideal para comer um Whopper triplo de vez em quanto: foram minhas bactérias que mandaram...
Referência
ALCOCK, J.; MALEY, C. C.; AKTIPIS, C. A. Is eating behavior manipulated by the gastrointestinal microbiota? Evolutionary pressures and potential mechanisms. BioEssays : news and reviews in molecular, cellular and developmental biology, v. 36, n. 10, p. 940–949, 2014.
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