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[Blogue do Matheus] A importância da microbiota humana

Os famosos micróbios

Os micro-organismos, ou micróbios como são popularmente conhecidos, são seres que habitam a Terra há, pelo menos, 3,9 bilhões de anos. Eles são responsáveis por terem modificado as condições da atmosfera quando o planeta era primitivo, permitindo o surgimento de novos organismos. Dentre os micróbios podemos citar as bactérias, algumas algas unicelulares e os protozoários. Eles podem ser encontrados nos mais diversos lugares: desde ambientes que não são habitáveis pelos seres humanos até mesmo na atmosfera.

Muito se é debatido sobre como os micróbios são capazes de causar doenças no corpo humano, mas é importante expor a funcionalidade benéfica que os mesmos têm no nosso cotidiano: eles são os principais decompositores da matéria orgânica, e ajudam as árvores a capturarem o nitrogênio presente na atmosfera, por exemplo. Eles podem, ainda, viver uma relação simbiótica, ou seja, tanto os micróbios quanto o organismo que está sendo colonizado são beneficiados dessa relação. Esse é o caso da microbiota humana.

Estudos apontam que o corpo humano de um adulto comporta 1 kg de micro-organismos: apenas 10 % das células que estão presentes no nosso organismos são células humanas, ao passo que os outros 90 % representam células bacterianas e outros micróbios.

A evolução da microbiota humana

Entende-se por microbiota o conjunto de micróbios que podem ser encontrados dentro ou na superfície do um corpo de um indivíduo, onde as relações simbióticas permitem seu desenvolvimento e sua sobrevivência. Por exemplo, eles exercem funções como: defesa e proteção contra agentes infecciosos, estimulam o nosso sistema imunológico e nos auxiliam na absorção de nutrientes. Em troca, nosso organismo oferece a eles proteção e abrigo, e nutrientes para que possam se desenvolver e reproduzir, tudo isso sem nos causar qualquer doença.


Sua formação se dá na gestação, havendo contato entre o feto e a microbiota da mãe. Durante o parto normal, o organismo do bebê é “colonizado” pelas bactérias que estão no canal vaginal materno. Esse é o primeiro contato do pequeno ser humano com os micróbios. No caso do parto cesariano, o recém-nascido entra em contato apenas com os micro-organismos que estão na pele da mãe e dos cirurgiões presentes na cirurgia. Estudos apontam que diferentes microbiotas são formadas de acordo com o tipo de parto realizado.
 
O segundo contato do bebê com os micróbios se dá através da amamentação; o leite materno é um dos principais contribuintes para a formação da microbiota do recém-nascido. A microbiota do pequeno é instável e se desenvolve e estabiliza após os primeiros anos de vida, assemelhando-se a microbiota de um adulto.


Diversos fatores podem influenciar na nossa microbiota humana, sendo alguns deles: a nossa dieta, os exercícios, o envelhecimento, doenças, tratamentos com antibióticos e etc.

Mudanças fisiológicas, e hábitos de vida e alimentares que são observados durante o envelhecimento, além de uso de medicamentos, são fatores que também influenciam a microbiota intestinal, levando a alterações na composição da mesma. Essas mudanças percebidas na microbiota de idosos, principalmente na diminuição na quantidade de ácidos graxos (responsáveis por muitos efeitos benéficos no organismo humano), contribuem para a diminuição da funcionalidade correta do sistema imunológico, e aumentam as chances de desnutrição, sarcopenia (perda da massa muscular), obesidade, diabetes e de doenças degenerativas.


Muitos estudos na área da Microbiologia reverberam em torno dos micróbios e o impacto que estes causam na saúde e no desenvolvimento do metabolismo humano, mas uma coisa é inquestionável: esses seres microscópios exercem uma função importantíssima na regulação e manutenção do nosso organismo, de forma a nos defender de possíveis patógenos e promover nossa saúde. Dentre as inúmeras funcionalidades da microbiota humana, podemos citar algumas que são de suma importância tanto para o desenvolvimento da criança quanto para o adulto:
  • Estímulo do sistema imune;
  • Defesa contra possível tentativa de colonização por bactérias que podem nos causar algum mal;
  • Absorção de nutrientes;
  • Participação na produção de enzimas e vitaminas;
Referências

ALTERTHUM, F. Microbiologia. 6ª ed. Rio de Janeiro: Atheneu, 2015.

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