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Ernst Mayr (Fonte: en.wikipedia.org) |
Ernst Mary foi um dos maiores evolucionistas da história da Biologia e ator principal da chamada Síntese Neodarwinista do século XX. Biólogo alemão, Mayr se dedicou à ornitologia (estudo das aves) no início da sua carreira, mas suas maiores contribuições foram dadas ao campo da evolução das espécies. Mayr definiu o Conceito Biológico de Espécie, que considera uma espécie não como um grupo de indivíduos similares em sua aparência, mas sim um grupo de seres capazes de se reproduzir entre si, gerando descendentes férteis. Esse conceito de espécie é o mais usado no estudo dos animais e sua evolução. Mayr também desenvolveu estudos sobre como as novas espécies surgem a partir de um ancestral comum e elaborou a teoria da especiação peripátrica, onde pequenos grupos de indivíduos podem ocupar nichos na periferia da área onde a espécie vive, e se isolar e mudar rapidamente com o passar das gerações.
Além de tudo isso, Mayr se dedicou a filosofia e divulgação científica no final da sua carreira, publicando livros direcionados ao público leigo. Um desses livros é “Isto é Biologia: A Ciência do Mundo Vivo”, cuja primeira edição data de 1997. Mayr morreu em 2005, com 100 anos. Eu estava cursando o terceiro ano da faculdade de Ciências Biológicas e Mayr foi escolhido patrono pela minha turma.
Embora Mayr tenha tentado escrever para o publico em geral, esse livro ainda é muito complexo, mas tem muito valor. Ele começa contando a história da biologia e da filosofia da vida com uma grande quantidade de detalhes, o que torna os fatos quase palpáveis. Em seguida, tenta definir o que é a Ciência e mostra porque a Biologia é especial; ela não tem as Leis da Física e da Química e precisa de um contexto histórico para explicar as relações entre os seres que por milhões de anos evoluíram juntos. Mayr também dá a sua visão de como a Biologia explica a vida e de como a Ciência avança, incluindo um histórico muitíssimo interessante sobre a evolução da biologia celular.
Mayr divide as grandes questões que desafiam os biólogos em três simples tipos: (1) o quê?; (2) como?; e (3) por quê? As respostas para as perguntas “o quê?” são os levantamentos do que existe de vida no mundo. Quantos seres ainda existem para ser descobertos na Amazônia? Será que ainda é possível encontrar algum ser muito diferente de tudo o que se conhece?
Como um embrião se desenvolve para formar um indivíduo adulto? As questões do segundo tipo buscam entender os mecanismos pelos quais as coisas acontecem na Biologia. Essas respostas são as que têm maior impacto sobre a nossa vida diária. Responder “como os obesos desenvolvem diabetes?” pode trazer novas formas de combate à doença.
As perguntas “por quê?” são impossíveis de se responder com precisão, já que envolvem questões evolutivas, cujas informações que temos são poucas e fragmentadas. Nunca saberemos ao certo tudo o que aconteceu com a vida na Terra pelos seus bilhões de anos de evolução. Mayr dá alguns exemplos dessas perguntas de difícil resposta. Por que só existem beija-flores nas Américas? Por que animais que vivem em desertos têm cor da areia? Por que as aves migram com a mudança das estações?
Por fim, Mayr discute sobre o papel da Ecologia e quais perguntas são feitas por esse campo específico e heterogêneo da Biologia. Ele também aborda o que sabemos sobre evolução da espécie humana, desde o ancestral primata que dividimos com os chimpanzés até a civilização. E no último capítulo, Mayr apresenta uma interessante hipótese sobre como a ética pode ter surgido evolutivamente na espécie humana. De modo geral, o livro é um apanhado de questões, históricos e teorias sobre e da Biologia de grande valor. Mas falha em tentar atingir o grande público, sendo complexo e detalhado demais em alguns conceitos que demandam um conhecimento prévio de biologia e filosofia da Ciência. É extremamente interessante para pessoas envolvidas em Ciências da Vida, mas também para cientistas de outras áreas que estejam curiosos para entender como a Biologia funciona e pensa. E pode ser um desafio recompensador para quem está fora da Torre.
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