Chegamos ao final da série sobre os “efeitos” do consumo do melão São Caetano sobre a saúde. Para ler as postagens anteriores sobre câncer e diabetes, clique aqui e aqui.
Algumas páginas na Internet afirmam que o consumo do melão leva a um aumento da função do sistema imune, que é o conjunto de células e órgãos responsáveis por defender o corpo contra infecções e doenças. Isso pode parecer bom a princípio; quanto mais ativo meu sistema imune, menos doente eu vou ficar. Mas não é bem assim. O sistema imune precisa ser regulado e mantido em um estado ideal. Uma baixa no sistema imune aumenta a chance de infecções; mas uma superativação pode levar a doenças autoimunes, onde as células de defesa acabam atacando o próprio corpo.
Mas quais são os reais efeitos do melão São Caetano sobre o sistema imune? O único trabalho que estudou os efeitos da planta sobre humanos foi publicado em 2003 (PONGNIKORN et al., 2003). Os cientistas não observaram efeitos do consumo do melão sobre o sistema imune de pacientes com câncer de útero.
Outras pesquisas publicadas em diferentes modelos mostram uma grande mistura de resultados. Uma pesquisa mais recente não viu qualquer efeito sobre células de defesa em cultura (MAHOMOODALLY et al., 2012).
Outras observaram um efeito imunossupressor, ou seja, de redução da ativação do sistema de defesa. A injeção de proteínas isoladas do melão São Caetano inibiu o sistema imune de camundongos (LEUNG; YEUNG; LEUNG, 1987), enquanto a suplementação da comida com extrato da planta reduziu a inflamação em roedores obesos (NERURKAR et al., 2011).
Por outro lado, a injeção do extrato da planta causou uma ativação de células imunes em camundongos (CUNNICK et al., 1990; IKE et al., 2005). Além disso, o tratamento de células de defesa em cultura com proteínas isoladas do melão levou a um aumento dos sinais de inflamação (JIRATCHARIYAKUL et al., 2001).
Ou seja, ainda não dá para ter a menor ideia sobre o real efeito do melão sobre o sistema imune com base no que já foi publicado cientificamente.
Referências
CUNNICK, J. E. et al. Induction of tumor cytotoxic immune cells using a protein from the bitter melon (Momordica charantia). Cellular Immunology, v. 126, n. 2, p. 278–289, 1990.
IKE, K. et al. Induction of Interferon-Gamma (IFN-γ) and T Helper 1 (Th1) Immune Response by Bitter Gourd Extract. Journal of Veterinary Medical Science, v. 67, n. 5, p. 521–524, 2005.
JIRATCHARIYAKUL, W. et al. HIV inhibitor from Thai bitter gourd. Planta Medica, v. 67, n. 4, p. 350–353, 2001.
LEUNG, S. O.; YEUNG, H. W.; LEUNG, K. N. The immunosuppressive activities of two abortifacient proteins isolated from the seeds of bitter melon (Momordica charantia). Immunopharmacology, v. 13, n. 3, p. 159–171, 1987.
MAHOMOODALLY, F. et al. In vitro modulation of oxidative burst via release of reactive oxygen species from immune cells by extracts of selected tropical medicinal herbs and food plants. Asian Pacific Journal of Tropical Medicine, v. 5, n. 6, p. 440–447, 2012.
NERURKAR, P. V et al. Momordica charantia (bitter melon) attenuates high-fat diet-associated oxidative stress and neuroinflammation. Journal of Neuroinflammation, v. 8, n. 1, p. 64, 2011.
PONGNIKORN, S. et al. Effect of bitter melon (Momordica charantia Linn) on level and function of natural killer cells in cervical cancer patients with radiotherapy. Journal of the Medical Association of Thailand, v. 86, n. 1, p. 61–68, 2003.
Comentários
Postar um comentário