No ano de 2022 o anúncio dos ganhadores do Prêmio Nobel será realizado entre os dias 03 e 10 de outubro. Nesse contexto, a empresa Clarivate dedicada, em suas próprias palavras, ao “fornecimento de informações e análises confiáveis para acelerar o ritmo da inovação” (Clarivate, 2022) já lançou suas apostas sobre possíveis nomes de cientistas que poderão receber o prêmio nesse ano. Assim, em se tratando do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia foram sugeridos três estudos que conduziram a descobertas importantes: 1) os estudos de Masato Hasegawa e Virginia Man-Yee Lee abordam a descoberta da proteína TDP-43, um elemento fundamental para o desenvolvimento de doenças neurodegenerativas; 2) o estudo de Mary-Claire King se debruça sobre mutações genéticas que podem demonstrar a susceptibilidade ao câncer de mama e ovário; e 3) o estudo de Stuart H. Orkin aborda as bases genéticas para doenças do sangue, como a anemia falciforme. Desse modo, cabe aqui a discussão acerca de qual desses estudos acreditamos que será honrado com o prêmio.
Em uma primeira análise, quando o assunto é o Nobel de Medicina e Fisiologia podemos mencionar a observação de Ashrafian e colaboradores (2011) que teceu críticas ao fato de os prêmios serem direcionados cada vez mais à pesquisa básica e menos aos estudos de maior aplicação clínica. Dessa maneira, ressalta que os laureados devem ser reconhecidos por seu benefício à humanidade, bem como por suas descobertas importantes, de acordo com o que é descrito no testamento de Albert Nobel. Outrossim, é necessário que sejam contemplados âmbitos da fisiologia e saúde humana que proporcionem perspectivas positivas à longo prazo e para o maior número possível de pessoas.
Por conseguinte, com base nos fatos supracitados, damos aqui nosso voto. Acreditamos que os recebedores do Prêmio Nobel de Medicina e Fisiologia de 2022 serão Hasegawa e Man-Yee Lee, pela descoberta simultânea da proteína TDP-43, no ano de 2006. Tal descoberta se fez fundamental para a identificação acurada dos mecanismos patológicos de doenças como a Degeneração Lobar Frontotemporal – com ou sem acometimento dos neurônios motores – e a Esclerose Lateral Amiotrófica. Nossa crença não se baseia em mero “pitaco” científico, mas na percepção de que essa descoberta pode lançar bases não só para o tratamento dessas doenças, mas também para a promoção do envelhecimento saudável e funcional em uma humanidade cada vez mais longeva. Ademais, a década que se estende de 2021 a 2030 foi determinada, pela Organização Mundial da Saúde, como a “Década do envelhecimento saudável”. Assim, nada mais coerente com a agenda de saúde mundial do que premiar estudos que se debrucem sobre o tema do envelhecimento, comprometimento neurocognitivo e qualidade de vida da população.
Portanto, embora as descobertas de Mary-Claire King e Stuart H. Orkin sejam igualmente honrosas e dignas de premiações, acreditamos que, nesse momento, os contemplados com o Nobel serão Hasegawa e Man-Yee Lee. Isso se dá tendo em vista a amplidão de distúrbios neurológicos que podem se beneficiar dessa descoberta e o aspecto clínico-patológico dos estudos. Ainda, deve-se considerar o enigma que envolvia a patogênese dessas doenças cada vez mais prevalentes na população humana, bem como a relevância desses estudos para a garantia de longevidade associada com qualidade de vida ao maior número possível de pessoas. Concluímos, segundo essa perspectiva, que abordar doenças neurodegenerativas, que comprometem gravemente a qualidade de vida e a capacidade funcional das pessoas acometidas, seja a aposta acertada para o Prêmio Nobel do ano de 2022.
Referências:
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Esse texto foi escrito por Alana Galvão Costa Guimarães, aluna de doutorado do Programa de Pós-Graduação em Fisiopatologia Clínica e Experimental da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como parte da avaliação da disciplina "Prêmios Nobel em Biociências", coordenada pelo professor David Majerowicz.
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