O corpo humano adulto possui 206 ossos. Essa quantidade imensa de ossos possui várias funções, tais como a proteção de órgãos vitais, armazenamento de cálcio, produção de células do sangue e locomoção.
O local em que dois ossos se juntam é chamado de articulação. As articulações permitem que possamos movimentar diferentes partes do corpo com precisão como os ossos da mão (carpo, metacarpo e falange) e ossos do joelho (o fêmur, a tíbia, a patela e a fíbula).
As articulações possuem três diferentes classificações: fixas, semi-móveis e móveis.
Nas articulações fixas, um osso é quase contínuo ao outro, havendo pouco ou quase nenhum espaço, como os ossos do crânio.
Nas articulações semi-móveis existe um pouco de cartilagem entre os ossos, permitindo pouco de movimento para evitar desgaste, sendo encontrados nas vértebras da coluna, por exemplo.
Nas articulações móveis, ou sinoviais, existem bolsas sinoviais. A função dessa bolsa é permitir o deslizamento de um osso em relação ao outro através de um líquido sem que haja atrito. No corpo humano, ombros, dedos, joelho e cotovelos são exemplos de articulações sinoviais.
A anatomia de uma articulação sinovial segue a imagem a seguir:
Os ossos estão separados por uma cápsula sinovial que consiste em uma membrana e líquido sinoviais, além da cartilagem e dos ligamentos laterais.
O líquido sinovial é rico em ácido hialurônico, produzido pelas células da membrana sinovial, que facilita o movimento entre os ossos sem que haja atrito por aumentar a viscosidade.
Outro fato é que o líquido sinovial apresenta gases dissolvidos como o oxigênio (O2) e o dióxido de carbono (CO2).
Ao estalar os dedos, a cápsula sinovial aumenta de tamanho. Junto disso, os gases que estão dissolvidos na cápsula escapam por conta da baixa pressão gerada pelo aumento de volume. O escape desses gases é na forma de bolhas que produzem barulho do estalo.
É possível notar que ao estar o dedo uma vez fica difícil estalar novamente, pois é necessário que o gás liberado se dissolva novamente no líquido sinovial.
Todo mundo já conheceu ou conhece alguém que disse que o estalar contínuo das articulações causaria artrite (dor e rigidez nas articulações), mas existe alguma comprovação científica para esse fato?
Em 1975, Robert e Stuart Swezey fizeram um estudo sobre a artrite e o hábito de estalar os dedos (SWEZEY & SWEZEY, 1975). Inicialmente, eles reuniram 28 pessoas, com média de 78,5 anos, que tinham ou não o hábito de estalar os dedos. Todas essas pessoas tiveram chapas de raio-X das mãos tiradas para avaliação de artrite.
O resultado foi impressionante. Dentre as 15 pessoas que estalavam os dedos habitualmente, somente 1 apresentou artrite. Ao mais, entre as 8 pessoas que não tinham o hábito, 5 apresentavam artrite.
Somente com esses dados é possível sugerir que não há correlação entre estalar os dedos e ter atrite.
Em segundo lugar, os pesquisadores compararam o quão frequente era o hábito de estalar os dedos entre idosos do primeiro grupo e crianças de onze anos. Nenhuma diferença estatisticamente relevante foi observada.
Sendo assim, a conclusão desse estudo foi que não havia relação entre estalar os dedos e ter artrite.
Em 1990, pesquisadores de Detroit (EUA) também tentaram relacionar a artrite com o hábito de estalar os dedos. Depois de avaliar mais de 300 pacientes e comparar os grupos que estalavam ou não os dedos, nenhuma relação foi observada (CASTELLANOS & AXELROD, 1990).
Em 1998, o Dr. Donald Unger enviou uma carta para a revista acadêmica Arthritis & Rheumatology contando sobre um experimento (UNGER, 1998). O homem estalou os dedos da mão esquerda pelo menos duas vezes ao dia por 60 anos enquanto não estalava os dedos da mão direita. O resultado foi que ambas as mãos apresentavam características semelhantes sem nenhum dano na mão que foi estalada durante seis décadas.
Sendo assim, por meio de provas científicas, ainda não foi comprovado o conto sobre a artrite e o estalar de dedos.
Referências bibliográficas:
CASTELLANOS, J, AXELROD, D. Effect of habitual knuckle cracking on hand function. Annals of Rheumatic Diseases, v.49, n.5, p.308-309. 1990.
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