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[Blogue da Paula] Alcoólatras sofrem mais convulsões?


A convulsão é uma doença que está relacionada com o aumento da atividade elétrica em alguma parte do cérebro, podendo ser localizada ou generalizada. Dos tipos de convulsões existentes, as duas mais conhecidas são: a crise de pequeno mal (ou de ausência) e a crise de grande mal.

Nas crises de ausência, geralmente a pessoa apresenta perda de consciência, olhar paralisado e interrupções de atividades, que normalmente duram alguns poucos segundos. Já nas crises de grande mal, chamadas também de convulsões tonico-clônicas, além de apresentar perda súbita de consciência, a pessoa tem contrações generalizadas, variando entre forte rigidez (aumento da contração do músculo) e períodos de relaxamento dos músculos, capaz de durar por alguns minutos.

É fato que algumas circunstâncias podem ajudar a desenvolver esta doença. As mais conhecidas são: febre alta, golpes na cabeça, epilepsia, falta de oxigenação no cérebro (que eventualmente pode resultar em uma alta descarga elétrica dos neurônios) diabetes e tumores cerebrais. Porém, uma causa pouco discutida é o alcoolismo; as convulsões podem ser desencadeadas pela abstinência após uso prolongado do álcool ou também de outras drogas.

Entre inúmeras complicações decorrentes do uso prolongado do álcool, uma das mais graves é a presença de crises convulsivas. Cerca de 40% das crises convulsivas de pacientes recém-chegados em emergências hospitalares estão relacionadas ao álcool.

Essa situação ocorre devido a alguns fatores que tem relação com o paciente em abstinência do álcool. Pode-se citar, por exemplo, o desequilíbrio na quantidade das moléculas de comunicação entre os neurônios, que estão em altas concentrações em situações de abstinência alcoólica. Isso pode provocar uma grande descarga elétrica em parte do cérebro. Isto pode ser visualizado através de exames de eletroencefalograma; ao invés de ondas, identificam-se picos de excitação dos neurônios, sendo essa característica importante da convulsão.

Outro mecanismo importante que ocorre e é alvo de alguns medicamentos usados em crises convulsivas, é a entrada de cálcio e sódio nas células. O paciente apresenta grande entrada de cálcio em abstinência, isto está relacionado com as contrações musculares e a forte rigidez. Já com o aumento das entrada de sódio nos neurônios causa aumento da atividade da célula. Por isso, muitos medicamentos impedem a entrada de cálcio e sódio ou reduzem a atividade dos neurônios.

Conhecer a relação entre convulsões e abstinência do álcool pode ajudar no diagnóstico preciso e nos tratamentos efetivos para determinada convulsão, evitando futuras complicações.

No mais, vão aí algumas dicas se um dia você presenciar uma pessoa tendo uma crise convulsiva. Primeiro, o ideal é que chame atendimento médico o mais rápido possível. Mas, enquanto ele não chega, deite a pessoa de lado, afaste todos os objetos ao redor e solte um pouco as roupas dela.

Lembre-se: esses cuidados básicos servem para impedir que a pessoa se machuque!

Referências

GIGLIOTTI, A. BESSA, M.A. 2004. Síndrome de Dependência do Álcool: critérios diagnósticos. Rev Bras Psiquiatr, 26(Supl I):11-13.

HONORATO, L. 2019. Epilepsia afeta funcionamento dos neurônios e crises têm controle. O Estado de São Paulo, 26 de Março de 2019.

VILAÇA et al., 2015. Convulsões relacionadas ao alcoolismo: atualização. Rev Bras Neurol. 51(2):31-36.

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