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[Chute do Nobel T3E6] Nobel de Química 2023


Uma forte candidata ao Nobel de Química é a pesquisadora Katalin Karikó, doutora em Bioquímica pela Universidade de Szeged. Há décadas Karikó vem contribuindo de maneira notável para o avanço da Ciência e a Medicina. Seu trabalho incansável e inovador no campo do RNA mensageiro (mRNA) desempenhou um papel fundamental na criação das vacinas contra a Covid-19 e na revolução no campo da genética que estamos observando atualmente.

Sua origem modesta, como filha de um açougueiro, a distanciava do mundo da Ciência, não tendo nenhum cientista em sua rede de contatos quando tomou a decisão de trilhar o caminho da pesquisa científica. Em 1985, apenas três anos após sua formação, a húngara atravessou o oceano para os Estados Unidos, onde realizou um pós-doutorado na Temple University, localizada na cidade de Filadélfia, Pensilvânia. Posteriormente, em 1989, Karikó assumiu o cargo de Professora Adjunta na University of Pennsylvania. Nessa instituição, ela concentrou sua pesquisa na inovadora tecnologia de mRNA, mais especificamente no desenvolvimento de terapias baseadas no RNA mensageiro. O mRNA é uma molécula produzida por todos os seres vivos e funciona como uma “receita”, que ao ser lida pela célula, permite que esta produza suas próprias proteínas.

A história da pesquisa de Karikó sobre o RNA mensageiro remonta há décadas atrás, quando ela começou a investigar suas possibilidades terapêuticas. Ela acreditava que o mRNA poderia ser usado para tratar doenças genéticas e outras condições médicas, mas seu trabalho foi negligenciado por muito tempo pela comunidade acadêmica. Sua persistência foi recompensada quando suas descobertas sobre a modificação do mRNA permitiram que ele fosse usado de forma segura e eficaz para a produção de proteínas terapêuticas no corpo humano.

Katalin Karikó e seu colaborador, Drew Weissman, tiveram um papel vital no desenvolvimento das vacinas contra a Covid-19 baseadas na tecnologia mRNA. A Pfizer-BioNTech e a Moderna utilizaram suas descobertas para criar vacinas que demonstraram uma eficácia extraordinária na prevenção da doença, permitindo o caminhar da pandemia para seu fim. As vacinas de mRNA são uma inovação que tem o potencial de revolucionar a medicina e a imunização. Elas são mais rápidas de se desenvolver e produzir do que as vacinas tradicionais, oferecendo uma vantagem significativa em resposta a pandemias.

Além da aplicação em formulação de vacinas, as contribuições de Karikó também têm o potencial de transformar a medicina personalizada. A capacidade de utilizar mRNA para direcionar a produção de proteínas específicas no organismo abre as portas para terapias altamente precisas e individualizadas para uma ampla gama de condições médicas, incluindo doenças genéticas raras. Essa abordagem promissora pode proporcionar esperança a muitas pessoas que enfrentam condições médicas desafiadoras e anteriormente sem tratamento específico.

O trabalho de Karikó não é apenas uma conquista notável no campo da química, mas uma contribuição que se perpetuará por gerações. Sua pesquisa é uma base sólida para avanços futuros nas áreas de genética, biologia molecular, dentre outras.

Por fim, pode-se concluir que Katalin Karikó é uma cientista visionária cujas contribuições à ciência e à medicina merecem reconhecimento mundial. Seus trabalhos abriram caminho para avanços significativos na medicina personalizada e terapia genética, especialmente em relação ao vivenciado recentemente com a pandemia de Covid-19. Sua jornada é uma inspiração para todos que valorizam a busca incessante do conhecimento e a superação de adversidades. Além disso, a trajetória de Katalin Karikó destaca a importância da representatividade feminina na ciência, mostrando como mulheres cientistas podem desempenhar papéis fundamentais na transformação da saúde e do bem-estar da humanidade. Conceder-lhe o Prêmio Nobel de Química em 2023 seria uma homenagem justa a uma cientista cujo trabalho está quebrando barreiras e inspirando a próxima geração de pesquisadoras.

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Esse texto foi escrito por Rafaella Ferreira Alves, aluna de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Biociências da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como parte da avaliação da disciplina "Prêmios Nobel em Biociências", coordenada pelo professor David Majerowicz.

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